Elegância, Syrah Neozelandês e Pós-Modernidade.
Elegância
Excesso de informação, de trabalho, de trânsito, de silicone, de cheddar com bacon, de crossfit, celular e gente. A pós-modernidade é ápice e epicentro de uma cultura excessiva que também não perdoou o universo do vinho. Avalanche de carvalho, cacetadas desbalanceadas de fruta, teores alcoólicos homéricos, todas essas são certas tendências que por sorte diminuem, mas ainda espreitam muitas taças. Naturalmente pela somatória corriqueira de todos esses excessos me tornei um tarado por elegância.
Sim, elegância, que não se confunde com soberba, erudição ou ostentação, mas é justamente o antônimo de uma cultura do exagero, um porto seguro de equilíbrio e conforto nesta amalucada sociedade de superlativos.
Pós-Modernidade
A ignorância generalista, outra forma condenável de excesso, é responsável por, dentre outras pérolas, bradar a elegância como um predicado exclusivo do Velho Mundo. Pois bem, cá estou com o Stonecroft Shiraz, 2006, diretamente de Gimblett Gravels, em Hawkes Bay, Nova Zelândia, para trazer luz para vossas vidas e estilhaçar tão frágeis argumentos.
É verdade que ao contrário dos nossos hermanos argentinos ou chilenos, a Nova Zelândia é bastante tímida na mesa brasileira, grande parte pelo binômio: reduzida produção e maior custo. De qualquer forma, como tudo na vida, o desconhecimento do objeto pode nos levar ao erro de resumir seus vinhos unicamente aos vibrantes e mundialmente populares Sauvignon Blanc.
Syrah Neozelandês
Pois então, fugindo da loucura da pós-modernidade abri essa garrafa e dei a ela o merecido tempo para espairecer no decantador. O resultado foi surpreendente: apesar dos doze anos de intervalo entre a produção e o copo, o vinho tinha uma jovialidade incrível. Já começava em seu aspecto visual: um rubi de intensidade média a profunda, com reflexos tímidos atijolados (denotando idade), muito menores do esperado. Os aromas de amora-preta e framboesa-negra, mesclados ao carvalho e pinho, geravam um frescor balanceado por uma leve fruta licorosa e pimenta do reino. Em boca, depois das camadas de fruta escura, um persistente retro gosto de chocolate amargo e café. O grande lance desse cara é equilíbrio: taninos polidos, álcool integrado, corpo médio e acidez vibrante; fruta em destaque, mas não enjoativa; passagem de doze meses entre carvalho francês e americano como boa coadjuvante e não protagonista, e, uma capacidade de guarda invejável. Não deve nada ao crus do Norte do Rhône.
O segredo do sucesso? Uma vinícola e um vinho sem excessos. Produção pequena, cuidadosa e orgânica. A natureza também ajuda: a região situada na ilha norte, recebe abundante luz solar em um clima marítimo mais quente do que outras regiões vinícolas do país, permitindo o sucesso do amadurecimento de certas uvas tintas, como a Syrah. Sucesso, inclusive, extremamente dependente da interação entre tal clima e o solo de cascalho do lugar, que otimiza a retenção de calor de forma similar ao visto na margem esquerda de Bordeaux.
Vale o investimento? Amigo(a), você já gastou inúmeras vezes metade desse valor com excessos indesejáveis e arrependimentos. Eu te recomendo optar pela elegância.
Conheça:
- Stonecroft Syrah 2006 750ml
- Tags: Uvas
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