Vinho e História - Simpósio ou Convívio
O que isso tem a ver com vinho?
Apesar da origem grega, o simpósio teve sua versão romana, o convívio.
Ao pé da letra synposion, quer dizer bebendo juntos e convivium, mais amplo, significa viver em comum. Trata-se de um jantar regado as mais exóticas comidas, bebidas e prazeres que a vida pode dar.
Ao contrário de seu ancestral, o convívio era a atividade completa do banquete, enquanto que o simpósio, era o ato de beber, entre os homens, após a refeição principal.
Mas porquê escrever sobre tal assunto?
Na verdade, podemos perceber que estes costumes fizeram parte da história das civilizações e estas deixaram heranças que até hoje repetimos.
O historiador Rod Phillips, narra em Uma Breve História do Vinho, que na verdade a palavra é feminina, as symposias eram reuniões entre homens, após o jantar, onde se bebiam vinho e conversava-se sobre história, filosofia, arte e guerra. Os homens eram servidos por garotos, entretidos por dançarinas e músicos.
Normalmente as symposias eram reuniões formais e o vinho era o principal recurso lúdico, geralmente entre os gregos nobres bebia-se um vinho doce e era freqüente ser este misturado a água do mar, a mistura maior ou menor indicava a classe do anfitrião. Este era chamado de simposiarca, o qual dava o ritmo ao evento.
Geralmente o vinho era despejada na água, cujo recipiente era o Krater e posteriormente servido em um Kylix, um tipo de taça metálica muito rasa e larga, em sua boca.
As mulheres que participavam destes eventos eram prostitutas, serviçais, cantoras e eram consideradas menores. As mulheres destes membros dos simpósios, reuniam-se separadamente, e tomavam vinho sem misturar com água. Este ato era considerado bárbaro para os gregos, o que igualava as mulheres aos que não eram gregos.
Uma possibilidade era chegarem mais rápido até Dionísio. Os historiadores da época relatam os atos femininos de uma forma negativa e passível de punição, adultério e indignação.
È muito comum vermos em cerâmicas da antiguidade grega retratarem estas cenas. Normalmente esses krateres ou os potes onde se faziam os vinhos retratvam essas cenas retratando os momentos dos simpósios. Nas comédias gregas a visão do feminino associado a bebida era sempre jocosa, reproduziam momentos de embriagues, muito provavelmente para intimidar as mulheres praticantes destes momentos de prazer e sedução à Dionísio.
Os gregos, normalmente eram mais moderados que os romanos. Entre os gregos normalmente o ato de beber não era um hábito em si, geralmente a bebida pura e simples ou a embriagues como circunstância isolada era tida como procedimento menor. Já os romanos eram retratados na história como bebedores mais entusiastas que gregos. Em nossa própria historiografia, comumente reputamos aos romanos e não aos gregos as grandes festas, orgias e bacanais.
A versão romana dos simpósios era o convivium, apesar de mais amplo que o simpósio era um evento formal, regado a comidas e bebidas exóticas. Um verdadeiro banquete, que ao longo da história foi reproduzido em diferentes ocasiões. Sua importância era tamanha, assim como os banquetes medievais, os vitorianos ou mesmo os franceses da corte de Luís XIV.
Nestes eventos, que podem ser observados nos afrescos de casas importantes de Pompéia, os convidados traziam seus serviçais. Os convidados eram recebidos, tiravam-lhes as sandálias, lavavam seus pés com água, enquanto bebiam. As mãos, eram lavadas com vinho e geralmente bebiam também como os gregos um vinho doce, chamado de malsum.
O historiador Roy Strong, em Banquete, uma história da culinária, dos costumes e da fartura à mesa, relata os excessos deste que era sem dúvida um dos atos mais significativos da cultura romana.
A fartura indicava poder, status político e social. Oferecer ao conviva ilustre a mais inusitada iguaria um ato de respeito e subserviência que deveria ser recíproco. Os exotismos não era um exagero, era um sintoma de relevância sócio-econômica.
O relato conta que não era apenas um jantar, era um ato social muito importante, um momento que representa a civilidade e a cultura dos convivas.
O jantar, geralmente dividido em três partes, nos remete muito significativamente ao nosso momento, entrada, prato principal e sobremesa, ou ao que guardamos desta herança. Não era apenas pratos, eram encenações e esculturas de alimentos. Era muito comum a surpresa ao abrir um ovo e encontrar uma iguaria temperada. Um carneiro ou um bode, cujo ventre era aberto e saiam lingüiças e outras comidas feitas para rechear. Tudo regado ao mais farto do vinho.
O mais importante destas descrições é remetermos esses fatos históricos às tradições que guardamos conosco até hoje e nem nos damos conta de como elas estão presentes em nosso cotidiano consciente ou não.
Quanto desses momentos relatados já não fizeram parte de nossa cena de convivência entre amigos e convidados, ilustres ou não. Fato é que recorrer a esses momentos históricos nos possibilitam entendermos um pouco mais de nós mesmos.
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- Andre Fonseca | Winerie
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